quarta-feira, 14 de julho de 2010

Ela não era fácil. Seu coração sempre estava trancado.
Algumas vezes, dizia sim. Mas queria um não, grande e pesado.
Outras, dizia não. Mas desejava um sim, doce e livre.
Gostava do jogo das palavras, perdia-se na imensidão dos desejos, sonhos.
Para ela, o mundo não deveria ser simples, deveria ser uma brincadeira eterna de símbolos, enigmas e, cada um deveria ir desvendando o outro. Ninguém a desvendara.
Presa em seu universo, ficava inventado sonhos. Decifrando olhares, gestos, andares.
Um dia, numa tarde quente, em que todo o mundo está silencioso, deparou-se com o mais belo olhar, como poderia ser tão simples, tão profundo e real.
Atormentou-se, sentiu-se perdida, quando os olhares se cruzaram, sentiu-se nua, sabia que alguém acabara de encontrar uma das chaves de seu coração.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

princípio...

Pegou cada coisa lentamente.
Seus óculos, a cadeira e a sacola de praia.

Seu corpo não era o mesmo, tinha marcas de uma dura caminhada.
O coração: um músculo pulsante, triste e vazio.
A alma: pesada, cheia de sonhos petrificados.

Desceu as escadas e, ao final, percebera que havia esquecido o caderno e o lápis, presentes de um velho amigo.
Pensou...
Hoje, não escreveria.

Cruzou a rua e viu a imensidão daquele mar, daquele azul e dourado, brigando para ver quem era o mais belo do dia: ambos.

Seu lugar como sempre, vazio. Sentia um alívio quando via seu local preferido sem ninguém. Sentou-se e, ali, sozinha, quieta, ficou vendo as vidas serem.

Há quanto tempo não falava? Não escutava a sua própria voz? Passava horas e horas escrevendo todos os dias, sempre só. Acostumara com não falar e, pronto, agora era muda.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Silêncio

Há um silêncio.
Alguém falando lá na rua.
Uma moto businando.
Um barulho de folhas.
Um sinal apitando.
Carro que diminui e, logo, continua.
O mundo gira, grita, mostra sua existência.
O silêncio é dela.
Fica parada, olhando... tentando escutar alguma coisa do coração.
Um gemido... um choro, uma vontade... mas o silêncio está marcante.
Pesado. Frio.
Assustador.
Em que momento deixou-se silenciar?
Em que parada, onde deixou sua bagagem repleta de barulinhos... aqueles que ficavam cantando dentro dela, alegremente...
Seu sorriso é real?
Suas lágrimas são de quem? Pra quem? Por quem?
Cadê a menina de olhos vivos? Tagarela?
Fazendo barulho pra vida, com a vida.
Quieta. Medrosa. Triste.
Se perdeu?! Em que momento?
Sente lá longe um barulinho de gota caindo...
É dentro dela. É nela.
Ainda não desistiu... são sonhos escorrendo.
É preciso encher as garrafas... todas.

Será um mapa?