terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

História triste de beija-flor.

Quando pequena era solitária.
Via as visitas passarem pelo jardim fingindo-se não existir.
Era a única florzinha roxa dali.
Cada manhã, o beija-flor sedutor vinha roubar-lhes um beijo.
Contentes, as flores recebiam
com as pétalas abertas ao amante.
Ela não. Era diferente.
Sonhava. Imaginava-o só para ela.
E com medo, fechava-se todinha.

Pela noite, abria-se para a lua.
Ali, trocavam confidências.
Queria tanto ser amiga das flores.
Mas todas, exibidas, zombavam dela.
E ela chorava, um chorinho silencioso.
Só a triste lua a escutava.

Um dia, a senhora grande e gorda apareceu.
E com um cesto grande de vime
arrancou do jardim todas as flores.
As rosas imponentes e de um cheiro
doce foram as primeiras.
Eram para a sala mais linda da casa.
Margaridas para a salinha de visitas.
Azaléias para a porta de entrada.
A senhora a olhou. De que lhe serviria aquela florzinha roxa?
Onde a colocaria? Não a quis.
O jardim perdeu suas cores. Só sobrou ela.
Pequena e fechadinha.
Não escutando a tagarelice alegre das flores pela manhã
abriu-se. Ninguém.

O beija-flor ao chegar, deparou-se com o jardim todo vazio.
A viu por primeira vez.
Tinha um perfume tão adocicado quanto o mel.
Suas pétalas de veludo.
Era toda linda.

Perguntou-lhe, então:
- Quer um beijinho?
Ela, envergonhada, olhou-o fixamente e disse:
- Será sempre meu?
- Sim. Disse ele, hipnotizado pela beleza daquela pequena.
- Aceito um beijo terno.
O beija-flor a beijou. Sentiu seu corpo paralisando-se, as asas lentamente deixavam de bater.

Era o veneno.
Pobre beija-flor. Morreu de amor.
Havia dado o mais sincero de todos os seus beijos.
A flor não sabia de seu poder. Fechou-se.

Nunca mais voltaria a abrir-se.

Em noites de lua,
por breves momentos, abria-se
para chorar por aquele beija-flor
que fora inteiramente seu.

2 comentários:

  1. Que lindo, Camilinha. Você está ficando muito boa nisso.....

    ResponderExcluir
  2. Que romantico, camila. Gostei...vá em frente...

    ResponderExcluir