sexta-feira, 30 de abril de 2010

Primavera

O jardim estava em festa.
Os canteiros exibiam as mais lindas flores.
Era primavera.
Cores, borboletas, cheiro bom.
Passarinhos vinham cantar pra lá e pra cá.

No canteiro mais lindo e cuidado do jardim
havia uma pequena flor quase sem pétalas, seca.
Ela olhava toda aquela alegria e chorava
Queria fazer parte dela, estar feliz, ser linda.
Não entendia por que estava assim
sequinha, sem cheiro, cinza.

Uma borboleta azul que dava cambalhotas no ar
Viu aquela coisinha sem graça, até insignificante.
Tudo era tão colorido, cheiroso, alegre.
E ela... feinha que dava dó.
Decidida, foi estar com ... poderia ser chamada de flor?
- Hei! Disse a borboleta.
Envergonhada a pequena flor respondeu: - Eu?
- Claro, você. O que aconteceu com suas folhas? Por que você está tão sequinha e sem cor?
- Não sei. Um menino vinha todos os dias me aguar, conversava comigo, me dava carinho, até beijinho. Mas um dia, começou a cuidar do jardim, tirava os matinhos, colocou pedrinhas, cerca e até placa pra não pisarem aqui. Fez silêncio e chorou.
- O que foi? Disse a borboleta. – Você não gostou do jardim todo cuidado pra você? Olha como ele está lindo.
- Eu sei, disse a flor ainda com os olhos cheio d’água. – Ele cuidou tanto do jardim e acabou se esquecendo de mim, agora é primavera e estou toda feia, ninguém vem brincar comigo, vão sempre para os outros canteiros.
Então, a borboleta voou, voou, batendo as asas para alegrar aquela flor tão triste e disse: - Olha, sempre há chuva nas tardes de primavera e com a água do céu, você será a mais linda.
Dizendo isso, foi embora.
A flor pensou, esperou.
No primeiro dia daquela primavera, ao entardecer, choveu horas e horas.
A noite foi fresca, com cheiro de mato molhado.
Os grilos cantavam felizes naquela primeira noite de festa.
Ao amanhecer, todos ficaram surpresos.
A feia e triste flor era a mais bela de todo o jardim.
Cor vermelha.
Cheiro doce.
Folhas brilhantes.
Ganhara vida com a água da chuva, agora sabia.
Já não precisava do menino para existir e ser.

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